Se há algo que gosto de fazer como professor é criar atividades práticas com as turmas que leciono disciplinas como Avaliação de Impactos Ambientais, Manejo de Recursos Naturais ou Ciência Política. Neste semestre estou lecionando a disciplina de Manejo de Recursos Naturais para o curso de Engenharia Ambiental e Sanitária no Centro Universitário Tiradentes em Maceió, Alagoas.
Ao longo da disciplina apresentei alguns conceitos e abordagens essenciais da Ecologia para trabalhar Manejo. Sem noção de Ecologia não há boa gestão e planejamento ambiental e muito menos de Avaliação de Impactos Ambientais, daí o reforço de conceitos e abordagens da Ecologia para a turma. Lembro quando apresentei o clássico “Fundamentos de Ecologia” do Eugene Odum e minha alegria em dizer que usaria vários dos capítulos na disciplina. Parecia criança (ao receber um presente) na hora de descrever o conteúdo do capítulo de Ecologia da Paisagem.
Recentemente na disciplina começamos a dar ênfase na parte de Resiliência Urbana e Ecossistemas Urbanos. Apresentei alguns relatórios da ONU-Hábitat para os alunos e um dos pontos discutidos foram as infraestruturas verdes e a necessidade de que os alunos e alunas tenham noção de elaboração de inventários arbóreos urbanos.
Daí estabelecemos um local para uma atividade prática supervisionada em Maceió e o local escolhido foi a Avenida Amélia Rosa, no bairro da Jatiúca. O intuito foi muito claro: apresentar, como atividade prática, o manejo de árvores urbanas como um conjunto de técnicas necessárias para sua sobrevivência e manutenção, dado que seu status ecossistêmico e paisagístico é muito diferente das florestas naturais, com problemas específicos para sua vitalidade ecológica (que podemos chamar de sua fitossanidade).
Na implantação inadequada da arborização urbana podemos observar interferências e prejuízos causados aos equipamentos e na própria estrutura urbana, tais como: fiações elétricas, encanamentos, calhas, calçamentos, muros, postes de iluminação e sinalização. O despejo irregular de resíduos da construção civil é um dos problemas que podemos perceber na foto (acima) que tirei na Avenida Amélia Rosa.

Na atividade de inventário arbóreo urbano com a turma de Manejo, pedi para que observassem árvores podadas drasticamente e com muitos problemas fitossanitários causados pela presença de cupins, brocas e patógenos ou mesmo injúrias físicas como anelamentos, além de caules ocos e podres, bem como galhos lascados ou rachados.
Já na aula de campo pudemos identificar que as raízes das árvores são superficiais, o que termina por prejudicar diretamente as estruturas da calçada no corredor de árvores que formam a infraestrutura verde da Avenida Amélia Rosa. Outro ponto que busquei apresentar aos estudantes foi identificar a associação mutualística entre fungos e algas (que dada sua mutualidade formam o líquen) no tronco das árvores. A razão é relativamente “simples”: quando há presença significativa de líquen, em geral os níveis de poluição do ar estão baixos. A presença de líquen é um indicador qualitativo de qualidade do ar.
uAssociação mutualística entre fungos e algas presentes no tronco das árvores e são considerados bons bioindicadores da qualidade do ar, por serem sensíveis à poluição, principalmente ao dióxido de enxofre, flouretos, ozônio e outros. Quando presentes em grande quantidade nos troncos das árvores, geralmente indicam que nesse local o nível de poluição do ar está baixo e adequado para as plantas e para o homem
O objetivo da atividade realmente é fazer um inventário arbóreo urbano da Avenida Amélia Rosa, identificando cada uma das árvores, sua fitossanidade, injúrias físicas e outros problemas relacionados. Acho que sairá um inventário arbóreo urbano bem interessante e que possibilitará uma discussão baseada em dados empíricos coletados pelos estudantes que ajudarão a entender melhor a importância dos serviços ambientais que a arborização urbana oferece para as cidades.