Parte deste artigo, que estou postando hoje no Poliarquias, originou-se de um paper intitulado “DESENHO INSTITUCIONAL E MUDANCAS CLIMáTICAS: UMA ANALISE DO DéFICIT DAS INSTITUIÇOES DA ONU”, assinado em co-autoria com Andrea Steiner, apresentado no IV ENCONTRO ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM AMBIENTE E SOCIEDADE – ANPPAS. Para maiores informações sobre o paper e outros trabalhos apresentados no Grupo de Trabalho – Relações Internacionais e Meio Ambiente acesse http://www.anppas.org.br/encontro4/cd/gt13.html
E postar essa discussão sobre as implicações e efeitos políticos e econômicos das mudanças climáticas deriva, em parte, dos conteúdos ministrados e discutidos no Mini Curso de Políticas Públicas Ambientais que ofereci no XVIII Congresso de Iniciação Científica da UFSCar. O objetivo essencial do mini curso foi fomentar a perspectiva interdisciplinar sobre as questões relativas ao meio ambiente.
E, acredito, parte desse objetivo foi alcançado justamente pensando a heterogeneidade da turma (estudantes de biologia, engenharia ambiental, ciências sociais, gestão e análise ambiental, agronomia, etc) e a necessidade de reforçar não apenas o critério científico das análises (fundamentalmente interdisciplinares), mas também a preocupação de deixar claro que a ciência e, mais ainda, os cientistas não isentos de responsabilidades. Foi muito boa a experiência, lamentalvemente não pude aproveitar ainda mais devido a forte gripe que me acometeu.
Mas “tocando a boléia” sigo com a discussão sobre as implicações e efeitos políticos e econômicos das mudanças climáticas.
Apesar das muitas controvérsias em torno dos dados científicos existentes, é inegável que as mudanças climáticas representam uma enorme ameaça sócio-ambiental, com potenciais conseqüências que vão desde a extinção de espécies, até o desaparecimento de países-ilha inteiros (Brown, 2001; UN DESA, 2007). Outros impactos, incluem, por exemplo, o aceleramento de processos de desertificação, queda nas taxas de renovação dos lençóis freáticos, maior disseminação de pragas relacionadas e diminuição dos estoques pesqueiros.
É possível prever, também, vários impactos econômicos, tais como perdas nos mercados do turismo, agricultura, sistema imobiliário, entre outros. De fato, estudos apontam que os custos totais e os riscos das mudanças climáticas poderão acarretar perdas anuais da ordem de 5% do PIB mundial num contínuo insustentável, podendo chegar a mais de 20% com o acúmulo dos impactos negativos. Contudo, existe a contrapartida desse cenário, onde as medidas tomadas gerarão custos consideravelmente menores (como a redução das emissões de gases com efeito estufa e perda de apenas 1% do PIB mundial) evitando cenários mais degradantes tanto econômica quanto ambientalmente (World Bank, 2006). Definitivamente, é um cenário de urgência que se agrava e que, politicamente, se traduz numa série de situações delicadas e difíceis de solucionar.
Imagem extraída de domnato.blogspot.com |
Uma das implicações políticas mais óbvias e simples de exemplificar é a dos refugiados ambientais. Atualmente pode-se citar o caso de Tuvalu, um Estado-ilha com cerca de 26 km2 localizado na Polinésia e que vem, há vários anos, tentando encontrar outro país que receba pelo menos 3.000 dos seus quase 12.000 habitantes: talvez os primeiros refugiados do clima a se auto-caracterizarem como tal. Esta nação, cujas praias estão desaparecendo e cujas terras agriculturáveis estão cada vez mais salinizadas devido ao aumento do nível do mar, possivelmente se tornará inabitável nos próximos 30 anos se as questões climáticas não forem enfrentadas de forma apropriada. O país é membro da ONU desde o ano de 2000, além de fazer parte de duas outras organizações relacionadas que tratam da problemática dos países-ilha1; porém, já tentou firmar acordos com a Austrália e a Nova Zelândia para solucionar, com pouco sucesso (Macan-Markar, 2008).