As instituições impregnam as ações com seu estilo específico de atuação, o que pode ser observado na condução da política externa brasileira por meio do Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores). Entretanto, também deve ser considerada, nessa inferência, a existência de uma comunidade de política externa, contendo: “autoridades governamentais, congressistas, empresários, representantes de grupos de interesse, líderes de organizações não-governamentais, acadêmicos e jornalistas” (SOUZA, 2002). Um quadro que remete a um modelo de poliarquia
decisória no tocante não somente a participação de outros atores políticos (além da Poder Executivo), mas também do Poder Legislativo e também de atores ligados diretamente a sociedade civil (ONGs, Sindicatos diversos, etc).
decisória no tocante não somente a participação de outros atores políticos (além da Poder Executivo), mas também do Poder Legislativo e também de atores ligados diretamente a sociedade civil (ONGs, Sindicatos diversos, etc).
Nesse quadro, aparentemente vasto de atores participando de uma comunidade de política externa brasileira, ocorreria uma tendência de dispersão de foco e percepção das relações internacionais. Entretanto, a cuidadosa pesquisa realizada por Amaury de Souza (2002, p.05) indicou um quadro oposto. Por exemplo, em entrevistas realizadas com denominados membros da comunidade de política externa brasileira, o autor pode observar que:
Uma síntese das principais conclusões do estudo aponta, inicialmente, a aspiração de transformar o Brasil em um ator global, com influência no sistema internacional. Praticamente a totalidade dos entrevistados (99%) declara que o país deve envolver-se mais e participar ativamente de questões internacionais, exercendo uma liderança compatível com seu imenso território e alicerçada sobre sua sofisticada tradição diplomática. Essa aspiração é respaldada pela percepção majoritária (74%) de que o Brasil desempenha hoje um papel internacional mais importante do que dez anos atrás, e pela expectativa quase unânime (88%) de que virá a desempenhar papel ainda mais importante dez anos à frente. O Brasil aparece junto a três países percebidos como potências emergentes na próxima década: a China, segundo consenso de 96% das respostas, a Índia (73%) e a Alemanha (64%). É sensivelmente menor o número de entrevistados que prevê um papel internacional mais importante no futuro para os Estados Unidos (49%), a Rússia (48%), a África do Sul (39%) e o Japão (29%).
Um cenário institucional de formulação de política pública, ampliado com diversos atores, pode gerar uma tensão política e institucional. Tensão esta gerada a partir não apenas de possíveis agendas conflitantes, mas também de: (i) preferências e horizontes temporais diferenciados; (ii) alinhamento de interesses entre atores políticos e sociais e; (iii) o potencial de conflito ou cooperação resultante da formulação de alguma política específica (comercial, ambiental, financeira, etc).
Segundo Maria Regina Soares de Lima (2000), a relação entre instituições políticas democráticas e política externa apresentam duas dificuldades: (i) a primeira reflete o caráter específico da política externa e (ii) a segunda diz respeito às deficiências institucionais das democracias. Essa distinção, apontada pela autora, será avaliada de forma ponderada a seguir, por considera-la o melhor viés para adentrar a discussão em torno dos possíveis riscos democráticos à qualidade da política externa.
Segundo Maria Regina Soares de Lima (2000), a relação entre instituições políticas democráticas e política externa apresentam duas dificuldades: (i) a primeira reflete o caráter específico da política externa e (ii) a segunda diz respeito às deficiências institucionais das democracias. Essa distinção, apontada pela autora, será avaliada de forma ponderada a seguir, por considera-la o melhor viés para adentrar a discussão em torno dos possíveis riscos democráticos à qualidade da política externa.

O que, infere, elementarmente, uma questão de escolha. Essa escolha deriva da possibilidade da maior inclusividade, complicar o processo decisório político exterior assegurando a representação de todos os atores pertinentes e de alguma forma interessados na matéria de política externa ou “isolar” o processo decisório político exterior dos diversos atores políticos e sociais de alguma forma gerando maior decisividade na tomada de decisão e perder, de alguma, a maior credibilidade outorgada pela maior participação de atores diversos.
Ao examinar e caracterizar a política externa como uma política pública, devemos observar que os processos de formulação de políticas públicas caracterizam-se por uma acentuada complexidade. Complexidade essa derivada não apenas da multiplicidade de atores participantes, caracterizando um modelo de poliarquia decisória, mas também dos diferenciados graus de poder, os horizontes temporais e os incentivos político-institucionais. Por exemplo, a maior abertura do Itamaraty a outros atores políticos e sociais e, mais ainda, ao exercício participativo de “controle democrático” por parte do Congresso Nacional brasileiro, no processo decisório político exterior brasileiro não perde, necessariamente, uma premissa fundamental da qualidade em política externa que é a horizontalidade temporal da política externa brasileira, característica que assegura a continuidade dos diversos temas da agenda internacional do Brasil em cenários institucionais internacionais como a Organização das Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio.
Abaixo segue uma entrevista no Programa Roda Viva da TV Cultura concedida pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil sob Administração Lula.